30 de maio de 2012

Cientismo e eclosão da ética cosmocêntrica


Para Alvin Toffler, a segunda vaga de mudança é o cenário de apogeu da cultura cientifico-tecnológica e, com efeito, é neste período que se desenvolve o cientismo. 

O cientismo é o culto da superioridade ciência.
Esta, antidogmática por definição, fornece explicações das causas dos fenómenos que são dogmaticamente aceites pelo cientismo (oh, the irony!), pois este mito vê o conhecimento científico como um saber autónomo (independente de pressões políticas, sociais, religiosas) e rigoroso no seu método (só são consideradas ciências as áreas que quantificam o mundo e o recriam em experiências, pelo que as ciências da natureza são o cúmulo da cientificidade) que constitui a única forma lógica de representação da realidade. Para os adeptos do cientismo, o objectivo das ciências de prever (porque, «nas mesmas condições, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos») e controlar os fenómenos naturais é o único método de garantir o bem-estar do Homem e o progresso sociocultural das civilizações. O estatuto de quase religião da ciência confere-lhe, e às suas descobertas, poder sobre o Homem, que se traduz num domínio dos detentores das novas tecnologias produzidas pela ciência  sobre os cidadãos comuns.

Com o desenvolvimento da ciência, apoiada pelo cientismo, esta tornou-se uma forma de poder.
A importância crescente do conhecimento científico, cimentada pela necessidade que este gera, nas populações, de novo progresso (diz-se, por isso, que o desenvolvimento tecnológico se estimula a si mesmo: a criação de gadgets impele as pessoas a adquirirem-nos, acabando estas por desejar adquirir outros mais avant-garde e, desse modo, incitar os técnicos a gerar novas invenções), torna-o vulnerável à política que, cada vez mais, procura intervir nas investigações levadas a cabo pelos cientistas e orientá-las, não no sentido da verdade, mas no mais proveitoso para o político.

O uso eticamente incorrecto da tecnologia faz ruir o cientismo e aponta para a necessidade de assumir responsabilidades éticas.
O desenvolvimento de investigações científicas permitiu concluir que, contrariamente ao que o cientismo fazia veicular, as leis enunciadas pela ciência não são verdades absolutas mas conceitos revisíveis, como estudámos anteriormente. Todavia, é no século XX, com as duas guerras mundiais e graças ao fabrico de armas com grande potência (como, por exemplo, a bomba atómica), que o cientismo, sob o peso da responsabilidade ética associada ao uso bélico da tecnologia, rui: de facto, a ciência e tecnologia não são necessariamente um método de obtenção da felicidade, podendo, até, apresentar alguns aspectos negativos associados ao seu uso. Ao serviço da tecnociência, a ética desenvolve-se com um carácter cosmocêntrico, isto é, centrada na preservação do cosmos (ver ética de Jonas), por oposição aos princípios éticos anteriores, pensados em função do Homem e dos seus interesses (= ética antropocêntrica).

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