A consciência moral é, segundo Savater, a cura para a imbecilidade, uma maleita que aflige aqueles que necessitam de se apoiar em agentes exteriores a si para guiar a sua vida e justificar a sua conduta, em vez de fazer uso da sua liberdade e capacidade de reflexão.
Para ter consciência moral é necessário querer viver «humanamente bem»...
Viver «humanamente bem» significa ser-se feliz consigo mesmo e feliz nas suas relações com os outros seres humanos. Para que tal suceda, é preciso (1) fazer um esforço para que a nossa conduta se oriente no sentido de realizar os nossos desejos e quereres, para que nos sintamos bem connosco, o que implica «prestar atenção» às nossas acções e às suas consequências, e (2) estabelecermos vínculos de amizade e respeito com os nossos semelhantes, o que requer o desenvolvimento de um «bom gosto moral» (um juízo interno), isto é, noção do que é correcto e incorrecto fazer-se, que nos guiará na nossa interacção com o mundo.
...e é ela que nos garante esta vida «humanamente boa».
A consciência moral é o que nos permite (a) ter noção de que, para vivermos bem e estabelecermos vínculos de amizade e respeito com os nossos semelhantes, o bem deve ser praticado e o mal evitado, sendo, por isso, necessário, por vezes, reagir ao mal, e (b) desenvolver um juízo interno para sabermos distinguir estes dois conceitos (bem e mal), isto é, desenvolver um «bom gosto moral».
A consciência moral pressupõe e desenvolve a liberdade e responsabilidade de um indivíduo.
Para desenvolver uma consciência moral, é preciso admitir a nossa liberdade e responsabilidade, já que esta só faz sentido se considerarmos o Homem um ser fundamentalmente livre, pois, caso contrário, acreditaríamos que as nossas acções são fruto de causas exteriores a nós e que não as controlamos, sendo-nos inútil «prestar atenção» ao que fazemos. Assim, o facto de assumirmos sermos livres implica que a admissão de que nossas acções são inteiramente da nossa autoria e, consequentemente, de que as suas consequências são responsabilidade nossa.
Sobre a natureza da consciência moral há duas grandes escolas de pensamento: o inatismo e o empirismo.
Os inatistas defendem que ela é uma capacidade inata, ou seja, que nos acompanha desde o nascimento, estando marcada nos nossos genes. Já os empiristas argumentam que ela surge como resultado da educação que recebemos e como algo que aprendemos lentamente e através da interacção social.
As posições conciliadoras, como a que é apoiada pelo autor da Ética para um jovem, asseguram que a verdade reside algures no meio das duas teses anteriores: a consciência moral é algo que nos acompanha desde o berço, mas esta só é desenvolvida quando vivemos em sociedade, evoluindo à medida que progredimos da heteronomia (= dependência dos outros) para a autonomia (= independência). Assim, enquanto uma criança distinguirá o bem do mal com base no que lhe foi ensinado pelos pais, um adulto reger-se-á pelo seu próprio código moral (pois desenvolveu o seu «bom gosto moral» ao longo dos seus anos a viver em sociedade).
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