A relação entre a retórica e a Filosofia remonta à Antiga Grécia e ao conflito que aí tomou lugar entre filósofos e sofistas, dois grupos de sábios que competiam pelo direito de instruir os cidadãos (gregos livres, do sexo masculino), a quem, de acordo com as regras da democracia aí implantada, competia a discussão e direcção dos negócios da pólis grega.
Para os sofistas, a verdade é subjectiva e relativa.
No século V a. C., em Atenas, os sofistas (do grego sophistēs, «aquele que faz da sabedoria um negócio») surgem como uma classe de professores que, ensinando aos jovens temas relativos à moral, política, economia, e outras dimensões da vida humana (deve sublinhar-se que o sofismo é uma disciplina antropocêntrica), se elevam socialmente. Muito viajados, os sofistas adquirem conhecimentos sobre diversas culturas, que prontamente transmitem aos seus discípulos, e, notando que as opiniões das pessoas diferem consoante o seu estatuto social, costumes e outros marcadores genéticos, culturais e geográficos, defendem que a verdade é um valor subjectivo que, para cada indivíduo, assume uma forma distinta: com efeito, de acordo com Prótagoras, "o homem é a medida de todas as coisas" e, por isso, "o verdadeiro é o que parece a cada um".
A aparente relatividade da veracidade leva os sofistas a questionar o que é tradicional e as convenções da sociedade e obriga-os a justificarem os seus ensinamentos perante os seus pupilos e os cidadãos atenienses não pela via demonstrativa (caracterizada pela verdade absoluta das suas proposições) mas pela via argumentativa e através da persuasão dialéctica. Estes professores tornam-se, deste modo, os primeiros retores, isto é, os primeiros a defender, ensinar e divulgar a arte de bem falar (ou seja, a retórica) e a consciencializar os restantes cidadãos do poder da estética argumentativa e da palavra na fundamentação/credibilização e destruição de teses.
Para Platão, a retórica está ao serviço do método demonstrativo.
Fiel aos ensinamentos do seu mentor, Sócrates, Platão torna a procura da verdade objectiva e universal (que transcende barreiras étnicas e culturais e, de acordo com a doutrina sofista, não existe) o objectivo da sua vida e dos seus estudos. Deste modo, no diálogo da sua obra Górgias, Platão condena a arte de persuasão sofista, a que ele denomina retórica (vocábulo derivado de retor, que designa o orador, e da mesma família de palavras que retoreia, a eloquência e capacidade de discursar em público), visto considerá-la um jogo de sedução que, baseando-se apenas em argumentos prováveis e não inegáveis, negligencia a verdade absoluta (é puramente um «simulacro de saber») e visa somente satisfazer interesses particulares. Mais tarde, porém, Platão admite que a retórica poderá ser útil quando é baseada no conhecimento produzido pela dialéctica, isto é, pelo diálogo e debate, que, como demonstrado por Sócrates, tem o poder de banir falsas opiniões, e apresenta-a como uma arte ao serviço da filosofia, isto é, como um instrumento disseminador da verdade definitiva (mas não de opiniões meramnte plausíveis) e que facilita a compreensão desta pelo público.
Para Aristóteles, a retórica está ao serviço do método argumentativo.
Tendo estudado a lógica formal (demonstrativa), que permite apurar verdades universais e inquestionáveis, Aristóiteles conclui que esta só pode ser usada no domínio das ciências objectivas, sendo insuficiente para apoiar as afirmações do âmbito das acções e valores. Essas asserções só podem, a seu ver, ser defendidas através do discurso argumentativo, que só pode ser construído após uma investigação minuciosa da temática seguida da selecção dos argumentos mais persuasivos (verifica-se, pois, que o objectivo destas redacções é o convencimento dos receptores a aderir à doutrina ensinada, o que é confirmado por Aristóteles em Arte retórica, na qual este distingue várias estratégias de persuasão, como ethos, pathos e logos) e disposição destes na composição a proferir. Para Aristóteles, portanto, a retórica e a dialéctica, mais do que um meio de veiculação da verdade demonstrada objectivamente (como o eram na opinião de Platão), surgem como modos de formar (pois exigem a pesquisa e aquisição de saber), expressar e justificar opiniões plausíveis sobre dimensões da vida humana (como religião, política, direito, etc.) nas quais não existem certezas a partir das quais se possa raciocinar.
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