«Eu» é o próprio agente. Segundo a ética de cuidado, ao cuidar de si mesmo, o «eu» está, indirectamente, a cuidar dos outros, uma vez que, se se sentir melhor consigo mesmo, conseguirá transmitir maior alegria e carinho aos que o rodeiam (o «tu» e o «ele»), cuidando melhor deles.
Cuidar de si significa ouvir-se a si mesmo e ouvir os outros.
Para cuidar de alguém, é necessário estar atento às suas necessidades. Assim, o «eu» deve «prestar atenção» a si mesmo e ganhar consciência de si e dos seus desejos, algo que só pode ser obtido através de um exercício de introspecção e reflexão sobre o que lhe garantiria uma «vida boa». (É indispensável que o sujeito se assuma um ser essencialmente livre e, consequentemente, responsável pelas suas acções. Se tal não sucede, esta reflexão não fará sentido, uma vez que o «eu» considerará que todas as suas acções são fruto de intervenções de forças exteriores a si.)
O ser humano é um ser social e, como tal, necessita do contacto de outros seres para se sentir feliz (mesmo os ermitas dialogam com Deus ou consigo mesmos): happiness is only real when shared. Como Savater afirma, nada no mundo é melhor do que estabelecer um vínculo de respeito e amizade com os nossos semelhantes, que advém da aplicação do «bom gosto moral» na criação de um carácter moral, isto é, uma personalidade que nos impele a tratar bem os outros (cuidar deles), tornando-nos passíveis de sermos estimados.
Em suma, cuidar de si mesmo implica desenvolver uma consciência moral, curando-se da imbecilidade.
O «eu» deve ser egoísta.
Terminada a reflexão e definido o que prejudica o nosso plano de ter uma «vida boa» (o mal) e o que o auxilia (o bem), o «eu» deve fazer um esforço por evitar o mal, isto é, colocar os seus interesses em primeiro lugar (= ser egoísta) e agir de modo a alcançar a vida boa.
Sem comentários:
Enviar um comentário